Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur, Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo, é um político brasileiro e professor, com formação em história e literatura
Nesta entrevista ele explica o seu planejamento estratégico na promoção do Brasil no exterior. Seu trabalho tem sido muito enaltecido no setor turístico, como hoje (6), numa entrevista ao canal por assinatura Globo News, Chieko Aoki, fundadora e presidente da rede de hotéis Blue Tree, teceu elogios ao trabalho que tem sido desenvolvido por Freixo.
O presidente da Embratur trabalha alinhado com a sua equipe, dentre eles a Jaqueline Gil, diretora de marketing, negócios e sustentabilidade, com 20 anos de experiência no turismo. A agência segue investindo no que o Brasil mais vende no exterior, o turismo de praia e sol.
Gil cria os briefings das campanhas com a inteligência da informação e outras secundárias, mas acredita que a economia do turismo é muito forte e que preciso explorar outros potenciais turísticos dentro do país, por isso tem investido em tempo de permanência do turista, diversidades de destinos e no nômade digital.
Philipe Karat é o engenheiro aeronáutico e coordenador de transportes da Embratur, e vem trabalhando em campanhas que aderem voos da Argentina direto para o nordeste brasileiro, numa aproximação com EUA e Europa, ampliando destinos. E estende o relacionamento com as operadoras de turismo para chegar nos Parques Nacionais, já que alguns são difíceis de acessar.
Freixo tem ampliado o relacionamento em diversos campos, fechado muitas parcerias, explorado as tendências de mercado, o turismo responsável e consciente. Ele explica na entrevista sobre o banco de dados do turista, confira abaixo:
Depois de assumir a presidência da Embratur, você mudou o olhar de turista para o de gestor do turismo brasileiro no mercado internacional, como isso funciona na prática?
-Eu acho que essa é uma grande reflexão e boa que você faz, a cabeça política é uma cabeça que olha para o turismo como aquele que viaja e eu acho que a gente precisa dar esse salto, que eu particularmente dei quando fui para a gestão, que é você olhar para o turismo como cadeia de trabalho, como geração de emprego e renda, e como um setor estratégico para economia.
O turismo é hoje 8% do PIB brasileiro e ele tem possibilidade de ser muito mais, e representa 18% do PIB português. O turismo já representa um percentual mais elevado em algumas cidades brasileiras. Eu acho que quando a gente pega o turismo e coloca num lugar estratégico é muito decisivo.
A Embratur está presente nas principais feiras de negócios de turismo do mundo (hoje na WTM London), o Brasil por sua vez é um destino que os países estrangeiros têm investido em estar presentes. Existe a possibilidade de um intercâmbio de promoções turísticas entre nações amigas, como a Argentina e Portugal por exemplo?
-Sim, nós fizemos na ABAV Expo uma reunião com a INPROTUR, que é a Embratur da Argentina, é exatamente isso, a possibilidade de uma promoção casada e comum, porque tanto a Argentina recebe muitos brasileiros, como o Brasil recebe muitos argentinos.
A possibilidade da promoção comum existe, isso começou a ser desenhado entre essas agências. E eu acho que na verdade quanto mais parcerias a gente fizer com as instituições locais, melhor para a gente.
Portugal, a gente já tem uma parceria muito grande, temos um convênio com Portugal em relação as boas práticas, nós assinamos junto com o presidente Lula na ida em março, hoje nós temos um convênio sobre a questão da inovação com o Turismo de Portugal. Então, a gente já vem fazendo isso e em alguns lugares já mais avançados, inclusive.
Como estão as expectativas de voos internacionais?
-A expectativa é a melhor possível, a gente tem hoje na Argentina 208 voos, a partir de janeiro serão 283.
A TAP assinou com a gente no Rio de Janeiro, na ABAV Expo, eles vão aumentar para 11 voos semanais, a Aerolíneas Argentina, a mesma coisa, a gente fez um acordo com a Copa Airlines. Então nós temos que trabalhar numa perspectiva muito grande, já houve um aumento significativo este ano.
Como tem sido a experiência com os Parques Nacionais, conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), hoje chegam a 334 unidades, em 27 estados brasileiros, que representa 9% do território terrestre nacional e 2% do bioma marinho costeiro. Muitos deles estão abertos à visitação, e faz muito sucesso entre os estrangeiros, como manter o ecoturismo e o turismo de natureza em locais que a necessidade de preservação é extrema?
-A experiência que a gente está tendo com os parques é muito positiva, podemos destacar os parques do Iguaçu, da Tijuca, Jericoacoara, Lençóis Maranhenses, Serra da Capivara, entre outros. E a gente vem assinando inclusive muitos acordos, é o que a gente mais quer, porque você profissionaliza, porque você traz o debate da sustentabilidade para o eixo central dessa promoção.
O Brasil tem muita diversidade, o estado, o turismo é o lugar onde a iniciativa privada e a iniciativa pública necessariamente caminham juntos, onde há pouca possibilidade de conflito entre o interesse público e o interesse privado, porque a gestão é uma gestão sempre compartilhada.
Mesmo que exista o Ministério do Turismo, o turismo é interministerial e interdisciplinar, porque o turismo caminha por vários lugares. Então, há uma grande parceria, por exemplo, nesse tema com a Marina Silva (ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima no Brasil), a gente já fez uma reunião de trabalho, as equipes trabalham juntas, então acho que esse é um lugar que nós vamos avançar muito.
Como funciona o banco de dados do turista no Brasil?
-É uma ação específica com inteligência de dados, se eu não estiver enganado, creio que seja a primeira vez que a Embratur tem um banco de dados do turista, Trouxemos uma profissional do ramo, a Mariana Aldrich, professora da USP, tem dois meses que lançamos o Painel da Embratur (em parceria com o ANAC, Banco Central e Polícia Federal), que é um painel que está disponível e a ideia é que ele possa ser um instrumento a ser utilizado tanto na gestão pública, quanto na gestão privada. São dados 24 horas permanentes, com o número de voos, com a rentabilidade do turismo no Brasil, e os números são muito positivos, agosto foi o melhor resultado dos últimos 25 anos, está no painel, isso já foi constatado.
Além de apresentar os voos, de onde vem esse turista e como ele circula dentro do Brasil, o Painel da Embratur vai ser melhorado a cada instante, com produção imediata de informação.
Quem é este turista? Quais as nacionalidades que mais adentram o Brasil?
-Argentina é o número um, 1,4 mil argentinos até agosto, vamos chegar a 2 milhões até o final de 2023, seguidos pelos Estados Unidos, Paraguai, Chile e Uruguai.
A campanha que lançamos há dois meses nos EUA foi muito bem-sucedida, são mercados específicos, para o interesse norte-americano, por exemplo, o debate do afroturismo, que hoje é uma bandeira central para a Embratur e dialoga muito com o interesse do mercado norte-americano.
Como o senhor entende a crescente da indústria do turismo de luxo no Brasil?
-Esse é o mercado que está bem-organizado e diversificado no Brasil. E é extremamente importante, e a Embratur vai estar presente na ILTM Cannes, em dezembro na França.
A gente tem um olhar muito específico, e o Brasil é o Brasil da diversidade!
No Brasil você pode ter o nômade digital ou você pode ter o turismo de luxo, tem gente do mundo inteiro chegando e o turismo de luxo é um nicho que é de grande interesse pelo ticket médio, e que pela diversidade do país, há atrativos que atendem a essa demanda.
Reportagem e foto: Mary de Aquino.